domingo, 11 de novembro de 2012

O BAÚ - LEMBRANÇAS E BRINCANÇAS (RS)



"O Baú- Lembranças e Brincanças" do  Grupo Trilho de Teatro Popular de Porto Alegre se configura como uma pequena obra prima. 
O espetáculo é o primeiro encontro do Grupo Trilho com o público infantil, e esse encontro é potente e torna-se uma grande celebração, uma troca verdadeira entre palco e platéia.
"O Baú" se utiliza de uma estrutura dramatúrgica bastante simples aparentemente, mas que ao decorrer do espetáculo se revela potente e complexa, por colocar em cena a história de duas meninas que lutam para vencer o tédio. O texto é repleto de méritos, pois além de trazer a tona uma série de brincadeiras nostálgicas que remetem as crianças de hoje, as crianças que fomos, consegue nos trazer jogos e significados que me remetem aos jogos de aprendizagem, pratica de Brecht, digamos o mentor e guia do Grupo Trilho.
Como já conheço a prática do grupo, estava ansioso para ver como que seria a inserção de uma possível estética brechtiana e de temas políticos num espetáculo infantil. Minha ansiedade transformou-se em êxtase, ao ver que a dramaturgia triunfa ao conseguir trazer a tona diversas questões que criticam o mundo atual, através da ótica de duas crianças, temas que não deixam de criticar a atual infância, mas que se utiliza de sutilezas, tornando toda a narrativa leve e engraçada.
A encenação é simples, ágil, despojada, os cenários são poucos, mas estão a serviço da cena, destacando-se a grande janela que auxilia na ambientação do sótão. Os figurinos são simples, mas condizentes com a proposta. A iluminação de Bruna Immich é pontual, pois delimita e caracteriza o espaço da encenação e ainda atua como um alerta nas cenas de narrativa, mostrando para nós que a cena ao qual estamos assistindo é teatro, é teatral, ora entramos na história, ora retornamos para a realidade, e esse corte é essencial para um maior entendimento deste jogo. A trilha sonora de Sérgio Baiano é uma delicia e auxilia muito na ambientação da cena.
O grande mérito da direção foi o de não desmerecer a inteligência do espectador, criando uma cena aberta, utilizando-se de elementos do teatro épico e didático que caracteriza-se pela narração e o diálogo direto com o espectador, onde as atrizes despidas de suas personagens nos apresentam suas histórias, lembranças e memórias. O espetáculo diverte e faz pensar, não se limitando a explicar o mundo, ou até mesmo transformá-lo, mas através da cena propõe uma tentativa de mudança de ótica, abandonando qualquer tipo de tom panfletário ou educativo.
As duas atrizes estão ótimas em cena, triunfam e conseguem de forma verdadeira dar vida a Dindim e Pimpolha. A cumplicidade que existe entre as duas é fundamental para o jogo proposto. Uma entrega muito grande diante do ritmo vertiginoso que o espetáculo tem. Mesmo dizendo que as duas estão ótimas, penso que em alguns momentos Caroline Falero consegue aproveitam melhor o jogo, se sobressaindo a sua colega Giovana Zottis, mas isto ocorre em alguns momentos, pois as duas atuações estão dentro de uma unidade que eleva a qualidade do trabalho.
"O Baú" se caracteriza por ser um trabalho onde cada artista envolvido executa sua função muito bem, resultando num ótimo trabalho, demostrando o bom momento que vive este jovem grupo gaúcho, que se continuar assim, ainda colherá muitos frutos.  

Elenco: Caroline Falero e Giovanna Zottis
Texto: Fábio Castilhos
Direção: Fábio Castilhos
Trilha sonora: Sérgio Baiano
Cenário: Anderson Balhero
Iluminação: Bruna Immich

Publicado originalmente no blog   VÁLVULA DE ESCAPE


segunda-feira, 22 de outubro de 2012

EMSAIAS (RS)



"Emsaias?!" é mais um espetáculo que chegou a Montenegro através do Circuíto Universitário promovido pelo SESC-RS. A peça  é resultado de uma disciplina dentro do curso de artes cênicas da UFSM. 
Trata-se de uma adaptação da obra "A casa dos budas ditosos" de João Ubaldo Ribeiro, onde o autor  trata do pecado da luxúria.  É o relato escaldante das memórias de uma velha baiana libertina que reside no Rio de Janeiro. Desde a sua adolescência na Baía, passando pelos Estados Unidos, até ao Rio onde vive, esta mulher seduziu ao longo da vida amigos e familiares, casados ou solteiros, rapazes e garotas, a sós ou em grupo, para participarem nas suas imaginativas atividades sexuais. A linguagem do livro é despudoradamente crua, mordaz, corrosiva, mas pontuada por apurado sentido de humor.
O espetáculo tenta transpor para o palco toda essa sagacidade da obra. Consegue em vários aspectos, mas em outros não, como segue a análise. 
Ressalto primeiramente a ousadia do ator Leonardo Bergonci, na transposição do romance para o teatro e segundo por calcar sua pesquisa na criação do binômio macho/fêmea, feminino/masculino, e que esta premissa já é com certeza um grande momento do trabalho. 
Porém a concepção do trabalho falha ao criar uma premissa que não consegue se sustentar ao longo do espetáculo. Inicialmente temos quatro atores no palco, vestindo apenas sungas e realizando uma espécie de aquecimento. Logo em seguida, uma voz em off anuncia que trata-se de  um teste e pede para que o ator (Leonardo Bergonci) inicie o seu teste, dando-lhe várias indicações. A partir daí, Leonardo começa a personificar a figura de uma mulher devassa que divide com o espectador suas experiencias sexuais. Os demais atores a partir daí aparecem apenas para trazer ou tirar adereços na cena, ou em pequenas situações que não chegam a alterar o rumo da cena. Creio que a presença dos atores é um grande equivoco e desperdício,  pois ao tratar de um tema que, em pleno século XXI ainda é tabu, o espetáculo perde a grande chance de explorar a presença e os corpos dos atores que inicialmente se apresentam no palco. Os corpos expostos poderiam ser muito mais explorados, pois tínhamos corpos magros, gordos, esbeltos, altos, baixos, fortes, peludos, enfim, corpos que mereciam ao menos uma atenção, um olhar que poderia ser explorado dentro deste arquetípicos femininos. E toda esta imagem inicial é abandonada sendo que os atores acabam ficando apenas com a função de contra-regras. Compreendo que o trabalho recaí sobre a figura de Bergonci, mas qualquer objeto ou pessoa que está na cena merece uma atenção e justificativa, ou senão não há necessidade de sua presença. E neste caso surgem duas opções na minha opinião: Ou estes atores fazem realmente parte da cena, ganhando um sentido maior para a encenação, ou sua presença não é fundamental e se elimina sua participação, centrando o foco apenas na figura de Leonardo, o que já acontece (e é muito bom), mas pelo menos não cria no espectador uma expectativa que acaba não se concretizando. 
Compreendo a ideia do ensaio, que já está presente no trocadilho do título: "Emsaias?!", que sugere um ensaio, ou alguém que veste saias e que é bastante condizente com a proposta que assistimos, mas até mesmo essa ideia do ensaio acaba se esvaindo e não acontecendo efetivamente. 
Ressalto que o trabalho de Leonardo Bergonci é um trabalho digno de atenção, pois tem potência e competência. Consegue segurar e manter o espetáculo por mais de uma hora e tratando-se de um monologo não é tarefa fácil. Sua interpretação se dá através de relatos que demostram, descrevem ou evocam a libidinagem da personagem. Sua construção da figura feminina é na medida, pois em vários momentos se esquece que é um ator quem está dando corpo a uma mulher, isto acontece quando embarcamos na história, em outros momentos isso não acontece, principalmente quando o ator erra o texto e tenta demostrar que faz parte do ensaio, mas o espectador percebe que aquilo não é parte do jogo proposto. Por isso eu penso que o ator poderia mergulhar intensamente na construção desta figura, e esquecer de tudo o que pode atrapalhar a contar essa historia. Bergonci demostra o domínio da cena, através de um partitura de ações e de sua presença. E este é um dos grandes méritos da produção, sua presença! É um ator inteligente que age e reage muito bem as participações da platéia. 
Outra questão é quanto a fluência do texto que muitas vezes cai na linearidade, não flui, fica truncado. Em outros momentos o ritmo é vertiginoso e é nestes momentos que o ator tem a platéia em seu domínio. 
Os outros aspectos da encenação estão todos muito bem encadeados, como a neutralidade dos figurinos, o cenário minimalista, a pontual iluminação, enfim, todos a serviço da cena.  
Em suma, trata-se de um bom exercício sobre o trabalho de ator, que revela um artista em potência, preocupado em falar de temas caros a sociedade, desvelando uma poética que trás a cena um humor corrosivo e necessário, reafirmando o bom momento que vive as artes cênicas da cidade de Santa Maria. 
Um espetáculo que com o tempo ganhará o ritmo necessário que em alguns momentos ainda carece, mas que não pode deixar de ser assistido, pela qualidade demostrada em cena.
Que este seja apenas o inicio de uma linda trajetória. 

Diego Ferreira - Comentador Critico- Graduado em Teatro/UERGS

Postado originalmente no blog Válvula de Escape.

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

DONA COISA (RS)

Foto: Pablo Canalles


"O meu coração é como um palco
Tantas histórias já vividas
Dramas romances comédias paixões
Um entrar e sair de ilusões
Sem saber se é pra rir ou chorar"

Roberto Carlos - Moço que Canta

"Dona Coisa" é mais um espetáculo vindo da boa safra teatral de Santa Maria. Este ano já assistimos "O amor é uma falácia" e "Fim de Partida". Dois destes trabalhos graças ao Circuíto Universitário do SESC que possibilita aos artistas acadêmicos a experiencia de circular e experimentar a produção de espetáculos.   
O espetáculo "Dona Coisa" inicia como uma especie de stand-up, com a chegada do público no teatro, onde a atriz Tainá Haas Theis nos recebe executando uma espécie de improvisação.  Confesso que essa premissa me fez pensar que o espetáculo não seria nada agradável, imagem inicial que foi gradativamente sendo desconstruída graças ao desempenho da atriz e pela envolvente trama que nos fora apresentada.  
O espetáculo é inspirado no texto “Senhora Coisa”, de Rodrigo de Roure, e co-direção de Pablo Canalles.  
Trata-se de um monólogo que retrata, em tom patético a degradação de uma mulher que vai se desvelando aos poucos diante do público, mostrando as mazelas e as "coisas" desta "mulher-coisa" que nos é apresentada.  
O adaptação do texto de Rodrigo de Roure, nos apresenta uma dramaturgia habilidosa, simples e despretensiosa, que consegue transmitir, através do riso, toda uma carga emocional, de um ser que "aparentemente" vive num mundo florido, onde as cores presente na cena inicial, aos poucos vão caindo por terra e dando lugar ao branco, ao neutro, utilizando uma metáfora sutil e poética para tratar de temas como o isolamento de uma mulher idosa, a desagregação mental, a não-comunicação. Me agrada bastante a poética da cena, onde signos vão sendo revelados aos poucos, as cores dão lugar ao neutro, onde havia festa, agora há a dor, a ausência de interlocutores, o isolamento, a velhice. As cores da infância dão lugar ao branco que pode representar o asilo, o branco dos cabelos, a cegueira, onde na sociedade os idosos ainda são tratados de forma desrespeitosa, como se não fossem vistos pelos outros, essa ausência, uma "coisa invisível", sem cor, neutra. 
A encenação de Tainá e co-direção de Pablo Canalles consegue criar um espetáculo que amarra muito bem os elementos da cena. O cenário composto por "pernas" de tecidos coloridos que aos poucos despencam, somadas a presença de um caixote branco que também vai se revelando a medida que a cena avança, o caixote é um elemento chave, pois sua presença auxilia muito na ilustração, criando os ambientes básicos necessários a contar esta história, que a medida que avança o caixote se transforma, assim como se transforma a mente de Águida. 
São muitos os elementos presentes em cena, mas todos muito bem explorados, contextualizados e que auxiliam a atriz a montar este verdadeiro quebra cabeças que é "Dona Coisa". Um exemplo é a saia que se transforma em véu, o cinto que transforma-se em saia, o desodorante que ao mesmo tempo é o responsável pela passagem do tempo, pequenas transformações, mas que condizem com as transformações e o esfacelamento da personagem. 
Um grande achado é a presença de Roberto Carlos na trilha da peça, a presença do "moço que canta" agrega poesia e humanidade a Águida, sendo que a última canção do moço no espetáculo é de cortar os pulsos de tão bela e tão apropriada para aquele momento da cena. 
Outro ponto positivo é a precisa iluminação que consegue agregar muito tornando o espetáculo plasticamente belo. 
Mas o espetáculo "Dona Coisa" acontece pela "presença" da atriz Tainá Hass que esbanja simpatia, e que consegue sustentar por aproximadamente uma hora a vida desta personagem enigmática, calcada no trabalho do ator. Tainá começa o espetáculo de forma leve, pescando a atenção do espectador, no início penso que falta um pouco de voz e profundidade da personagem, pois as palavras não chegavam até nós,  chegava a simpatia, a sua presença, mas o texto não. Mas aos poucos a atriz foi se revelando (assim como a personagem) e ao final fica a certeza de que Tainá é uma grande atriz que consegue transitar em momentos patéticos, que em muitas situações me remete a figura de um "clown", principalmente pelas hesitações, ações e ótica infantil das suas memórias, mas que ao mesmo tempo esta figura se mostra forte, dramática, tentando com seu relato de revolta e abandono, fazer sua voz ecoar fora das paredes brancas. 
O resultado é um espetáculo divertido que provoca o espectador a "jogar", provoca a desvelar gradativamente o cerne da cena. "Quem é essa mulher", já dizia Chico Buarque numa de suas canções, e isto fica para nós, quem é ela, quem é a Pequena e os "outros" que Águida se refere. Um jogo que precisa da comunhão com o público, como vimos na cena do corte do cabelo que precisa da disponibilidade de um espectador. 
O que fica é a qualidade de um trabalho acadêmico que tem uma força popular muito grande, um retrato fiel sobre a velhice e o abandono, realidade absurda de muitos idosos no Brasil. 
Ah, e para finalizar, minhas impressões iniciais a respeito da atriz caem por terra, assim como caem os panos, pois Tainá consegue demostrar com sua jovialidade uma força e maturidade cênica. 
Vida longa a "Dona Coisa". 
Conheça Dona Coisa no Facebook. 

Diego Ferreira - Graduado em Teatro - Uergs
Este texto foi publicado no blog Válvula de Escape.

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

5 TEMPOS PARA A MORTE (RS)


O Grupo U.T.A - Usina do Trabalho do Ator foi o grande homenageado do FITE - Festival Internacional de Teatro Estudantil que aconteceu em Porto Alegre. E encerrou o festival com seu mais recente espetáculo "5 tempos para a morte". 
O UTA completa neste ano 20 anos de trabalho continuado e de pesquisa. Acompanho o grupo através de seus espetáculos, dos quais já assisti: "O Marinheiro da Baviera", "Nos meses da corticeira florir", "A mulher que comeu o mundo" e agora este "5 tempos para a morte", e o que permeia estes trabalhos é a investigação  do trabalho do ator e as possibilidades da presença em cena. 
O espetáculo "5 tempos para a morte" é um trabalho sensível, que através de poesia imagética lança possibilidades sobre o tema da morte. O espetáculo já trás no seu enunciado "cinco tempos", a possibilidade  de cinco versões e variações para a abordagem do tema e até certo modo consegue sustentar isso, através de: cinco atores, cinco depoimentos, cinco armários/módulos que compõem o cenário, repetições de ações, enfim, várias possibilidades que poderiam se esgotar nisso. Mas o espetáculo vai muito além e está longe de se esgotar, principalmente por causa de sua estrutura dramatúrgica, que privilegia a poesia de imagens, onde o texto é fragmentado e não é utilizado enquanto força motriz. 
As imagens provocam o imaginário, as figuras evocam o estranhamento de um mundo onde o onírico se constrói frente aos nossos olhos. 
O tempo é dilatado, outro elemento que torna o espetáculo encantador, pois a ação da peça desencadeia-se num outro tempo, privilegiando cada ação, cada detalhe, um tempo ralentado porém recheado de intensões. 
A plasticidade da cena é de uma grande beleza, o cenário imponente é mais um corpo jogando em cena, e sua presença possibilita a criação de cenas memoráveis, através dos dispositivos, da movimentação e da sua máxima utilização. 
A trilha sonora cria um ambiente propicio para o desfile destas figuras transfiguradas, coroando a encenação e provocando o espectador através dos climas e possibilidades de jogo que se instaura através de sua inserção. 
Mas tudo isso se concretiza através do coletivo UTA, seu diretor Gilberto Icle que é um verdadeiro maestro, pois consegue me provocar através de uma rede de significados onde não é a palavra que me guia, mas sim a presença e ação dos atores. 
E por falar neles, não poderia deixar de citá-los, onde poderia cometer a injustiça de destacar a atriz Gisela Habeyche, pois a sua persona, é a que tem o dom da palavra, da verbalização, mas como eu já tinha dito anteriormente que não é a palavra que me guia neste espetáculo, não poderia me contradizer e deixar de destacar a PRESENÇA de Celina Alcântara, Dedy Ricardo, Ciça Reckziegel, Thiago Pirajira e lógico de Gisela Habeyche que preenchem a cena com suas vozes (e que vozes!), seus corpos e o compartilhamento de suas histórias, para tratar de um tema bastante recorrente, mas de modo original, criativo e tocante. E a cena final, além de surpreender comprova a beleza e poesia que permeiam todo o espetáculo e por que não dizer, que atravessa toda a trajetória do grupo UTA. 
Parabéns ao Fite pela acertada escolha, pois creio que o UTA representa bem essa questão do fazer artístico aliado ao fazer pedagógico que é comprovada através de suas ações e de sua equipe onde se evidencia esta dualidade professor-artista. Vida longa a pesquisa teatral. Vida longa ao UTA. 

Ficha técnica

Elenco: Celina Alcântara, Ciça Reckziegel, Dedy Ricardo, Gisela Habeyche e Thiago Pirajira.
Direção: Gilberto Icle
Assistência de Direção: Shirley Rosário
Iluminação: Bathista Freire
Figurinos e Cenografia: Chico Machado
Acessórios Cênicos: Marco Fronckowiak e Maura Sobrosa
Músicas: Flavio Oliveira
Produção: Anna Fuão
Fotos: Claudio Etges

Confira este e outros textos em Válvula de Escape.

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

FIM DE PARTIDA (RS)



"Nada é mais cômico que a realidade"  
Samuel Beckett

A apresentação do espetáculo "Fim de Partida" no Teatro Therezinha Petry Cardona foi de encontro e celebração com a obra de Samuel Beckett. Encontro com o teatro realizado em Santa Maria, cidade do Grupo TEATRO POR QUE NÃO?, e que juntamente com o grupo ATELIÊ DO COMEDIANTE, que participou do 1º Montenegro em Cena, puderam mostrar aqui, uma parcela da produção da cidade, comprovando a qualidade do teatro de Santa Maria. 
A encenação, baseada no texto "Fim de Partida" de Samuel Beckett, discorre sobre a crueldade das relações humanas inseridas num jogo constante de poder.  O fim da vida é condenado pela solidão, no qual, o desespero é tomado por uma total inércia. A relação de autoritarismo e dependência entre o criado Clov e o patrão cego Hamm, é marcado por uma comicidade requintada e altamente reflexiva. Hamm dá as ordens, enquanto Clov obedece. Mas é Clov quem dita a continuidade do jogo, pois ele pode partir a qualquer momento, e então todos morrerão, pois dependem dele para continuar existindo, pois Clov é o único que anda. 
O grupo consegue adaptar o texto rígido de Beckett sem trair o original, mantendo as características que fazem parte do universo hostil e degradante do autor. Rígido, porque o autor é "quase" um encenador de sua própria obra, pois através de suas didascálias consegue colocar a sua voz no palco, e fugir as suas orientações é quase como traí-lo. Mas eu disse que Beckett é "quase" um encenador pois a sua obra é texto, dramaturgia e seu sentido se completa no palco através da encenação. E a jovem diretora Luiza de Rossi, consegue vencer a rigidez e preencher as arestas propostas pela dramaturgia do autor. 
Sempre fico curioso quanto a encenações de textos clássicos, sacramentados e conhecidos pelo público, pois me parece que já existe uma fórmula, uma receita para encená-los, parecendo que o diretor não pode mexer nessa estrutura, ousar, enfim, colocar o seu ponto de vista acerca de determinadas obras. Fico muito chateado quando leio um texto para teatro e após vou assisti-lo e vejo que não há nada de novo em relação a proposta textual. E isto não acontece com o trabalho do Teatro por que não?, pois o grupo corta, adapta, ousa, mas não trai Beckett, pois o cerne, a origem, os conflitos estão presentes na encenação. 
A concepção é bastante inteligente ao utilizar uma paleta de cores interessante, que dá uma coesão a plasticidade da cena, ou seja, os figurinos, maquiagem, cenários, adereços e iluminação tem todos o mesmo tom, com pouca variação de cores e intensidade, o que provoca o olhar do espectador, atentando para o  minimalismo da cena. 
A direção é inteligente, pois soube acentuar o cômico presente no texto, através das ações dos atores, construindo uma densidade que aos poucos vai conquistando o espectador, e isto é mérito da direção que através do ritmo e evolução da cena, vai nos provocando e trazendo questões sobre a humanidade. Outro ponto positivo foi quanto a não utilização de trilha sonora, valorizando as pausas, a respiração, os silêncios necessários para construir e embasar a cena. 
O elenco é excelente. André, Cauã, Felipe e Rafaela são coesos e intensos, pois conseguem construir e sustentar muito bem seus personagens, o jogo entre Clov  e Hamm é impressionante, pois os atores estão entregues, através de movimentos e palavras conseguem construir um jogo preciso e apurado. E a cena com Nagg e Nell retrata personagens parados no tempo, sem nenhuma perspectiva, com um imenso vazio, e a interpretação dos atores consegue criar este niilismo, este aniquilamento da existência, mas a cena daqueles dois seres em estado de decomposição presos a latões é de uma beleza estética e poética bastante apurada que ao assistir pude vivenciar uma das experiencias mais solitárias e o pior é que eu não podia interferir na cena.  
O teatro Por Que não? está de parabéns pela proposta de trazer a tona este texto de Samuel Beckett, bastante atual por tratar sobre as relações humanas, traçando um panorama do homem em sua miséria, crenças e descrenças. E conseguem construir um espetáculo maduro, potente e atual. 

Ficha Técnica:
Texto de Samuel Beckett; Direção de Luiza de Rossi; Atuação de André Galarça, Cauã Kubaski, Felipe Martinez e Rafaela Costa; Iluminação de Juliet Castaldello; Sonoplastia de Daniella Paez; Cenografia e Figurino do grupo; Maquiagem de Aline Ribeiro;

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

ZUCCOS (RS)



"Zuccos" é um espetáculo que veio de Porto Alegre e trata-se de uma adaptação do texto Roberto Zucco de Bernard-Marie Koltès. Pautado na fragmentação, o espetáculo constrói um grande painel repleto de signos que muitas vezes acabam não auxiliando na comunicação com o espetador. O texto do Koltès já é pautado pela fragmentação, mas cada fragmento vai se estruturando e compondo uma rede que traça o perfil do serial killer Zucco. O mesmo não acontece neste experimento de "Zuccos", pois existem micro-cenas que isoladas, acabam não comunicando nada e dentro da grande estrutura aparecem soltas e deslocadas.
São muitos os elementos presente na cena e é preciso ter o cuidado de que cada um esteja ali presente pela necessidade e não para preencher a cena de imagens esteticamente belas. Porque os méritos da peça são justamente essas imagens criadas pelo elenco, que tem disponibilidade e precisão, imagens poéticas como a cena dos balões vermelho, ou até mesmo a cena em que a atriz utiliza a farinha como elemento. São cenas belas, bonitas que funcionam muito bem enquanto plástica, mas que perdem dentro do contexto da dramaturgia, atrapalhando o entendimento da peça. Entendo que a proposta é experimental, mas mesmo trabalhos com este caráter, querem se comunicar com a platéia, com seu interlocutor e por isso sugiro este cuidado em selecionar o que realmente é necessário para se contar a história de Zucco e o que não é. 
Por exemplo, no proscênio do palco a diversas partes de bonecas, assim como nas laterais da platéia existe a presença de painéis cheio de recortes de jornais que não significam nada, estão ali por estar, os restos de bonecas são ótimos, porém não são utilizados em nenhum momento. Outro demérito é a projeção de vídeo, que é bacana, moderna, mas o elenco não pode se tornar refém disso, pois quando não funciona o equipamento a cena tem que funcionar sem este recurso. 
Algumas vezes a ação acaba não se desenrolando, com por exemplo, na cena dos balões vermelhos, que esteticamente é linda, mas acaba caindo na obviedade sem o fator surpresa, pois sabemos de antemão que todos passaram pela experiencia de compartilhar os seus depoimentos. 
A cena do assalto do carro foi reconstruída e consegue alcançar um resultado ótimo. Assim como a cena dos balões. 
Um dos pontos altos foi a inserção de vídeos sobre assassinos da história e me chama a atenção um trecho sobre o Nardoni, pois ali eu achei o que não consegui visualizar durante a peça, ali encontrei o cerne que é a violência e a alteridade humana, e para o jovem elenco falta isso, a potencialidade da violência, a gana, o frágil, humano e animal irracional de Zucco, essas diversas facetas que compõe o perfil deste personagem que pode render e muito dentro do espetáculo. 
Que bom que tem um elenco que consegue sustentar a proposta, mas ainda creio que o caminho seria buscar uma profundidade maior na construção dos personagens e na sua relação com os demais personagens.  No elenco coeso destacam-se as presenças de Catharina Conte e Anna Júlia Amaral, pela presença e força empregada na construção das personagens, conseguindo um pouco melhor que os demais, sair das marcas da cena e agir de modo mais natural.
A trilha sonora executada ao vivo é boa e pontual, auxilia muito na construção da peça, mas a proposta se contradiz quando é utilizada uma trilha mecânica e o músico ali no palco sem fazer nada. A sonoridade provocada pelas facas, que eu chamei de violino de facas, não funciona, pois não significa nada e o som acaba não chegando no público nem tão pouco reverberando na cena.   
Gostaria de parabenizar o coletivo pelas escolhas e soluções e sei o quão difícil é querer explicar Koltès e sua obra, e talvez o mérito da montagem seja este, de fugir dos clichês e tentar buscar vários significados as intenções do autor, e a busca de novas soluções pode ser uma alternativa, mas atentando apenas para não se perder num emaranhado de simbologias que utilizadas de modo demasiado pode significar nada. 

Diretor: O grupo
Autor: O grupo
Contra-regra: 
Sonoplasta: Thiago Tavares, Flavio Aquino e Pingo Alabarce
Criador da trilha sonora: Flavio Aquino
Iluminador: Thiago Tavares
Criador da iluminação: Aline Jones
Maquiador: O grupo
Criador da maquiagem: O grupo
Figurinista: O grupo
Cenógrafo: O grupo
Elenco: 
Anna Júlia Amaral
Paulo Roberto Farias
Isadora Pillar
Aline Jones
Catharina Conte


Diego Ferreira - Comentador Crítico do Montenegro em Cena

O AMOR É UMA FALÁCIA (RS)




"O amor é uma falácia" do Ateliê do Comediante de Santa Maria trouxe ao Montenegro em Cena um arrojado espetáculo baseado na obra de Max Shulman. Arrojado porque consegue construir um trabalho que coloca o ator no centro da cena, e os atores conscientes disso, aproveitam cada segundo que estão no palco, seguros e plenos, corretos em todos os sentidos, respeitando os tempos, as pausas a respiração. O espetáculo é uma ode ao trabalho do ator, um exercício que abomina todo e qualquer tipo de recursos, demostrando que é possível construir um espetáculo interessante apenas com uma luz básica, a utilização de lanternas, a ausência de trilha sonora, e o fundamental: a presença do ator.  André Assmann, Luciano Gabbi e Raquel Guerra que juntamente com Laédio José Martins fazem do despojamento o seu grande triunfo, conseguindo através disso construir uma cena limpa, sendo possível ao espectador acompanhar a trama de forma tranquila, assim como os atores a contam, de um modo tranquilo e isto possibilita a compreensão das ações dramatúrgicas do inicio ao fim. 
Além de todas essas escolhas certas, a peça acaba ganhando um tom didático, no bom sentido, pois explicita o conceito de falácia, além de nos dar vários exemplos, que dão a tônica cômica ao trabalho. 
A direção foi muito feliz em todas as escolhas, o trio de atores é ótimo, mas vou ter que destacar e parabenizar a magistral atuação de André Assmann que confere a sua segura interpretação um minimalismo impressionante, correto no texto e dicção e disponibilidade corporal que Luciano também demostra. Já a personagem de Raquel é carismática e é o eixo da trama e ganha o público principalmente pelo bordão "bacana".
  
FICHA TÉCNICA
Atuação:
André Assmann (Max)
Luciano Gabbi (Petey Bellows)
Raquel Guerra (Polly Espy)

Direção e Técnica: Laédio José Martins


Diego Ferreira - Comentador Crítico do Montenegro em Cena

O AUTO DA CAMISINHA (RS)




"O auto da camisinha" é mais uma grata surpresa dentro do Montenegro em Cena. Um espetáculo que se estrutura a partir do texto de José Mupurunga, um dramaturgo cearense, autor também de "Farsa do Panelada" que foi o texto premiado no 2º Prêmio Carlos Carvalho de Porto Alegre. 
A dramaturgia coloca em evidência a ação desenvolvida em dois planos, o celestial e o terreno, onde desfilam figuras como o diabo e o anjo, personagens que sempre aparecem nos folguedos e dramaturgia popular brasileira, tendo como um bom exemplo Ariano Suassuna e seu Auto da Compadecida.
A peça começa com uma música do Cordel do Fogo Encantado  e logo em seguida é dito um texto que também é do Cordel, demostrando a abertura da direção em agregar outros fragmentos que possam ajudar a contar a história. E na minha opinião o grupo consegue um ótimo resultado na construção do seu espetáculo, dentro de um espaço equilibrado, com a utilização de poucos recursos de cenários. 
O texto, apesar de conter uma métrica, que é uma característica do autor, precisa ser um pouco mais trabalhado, buscando um ritmo mais apropriado, mas mesmo assim percebo que está bem internalizado pelo elenco que é bastante coeso. O sotaque nordestino não chega a atrapalhar a apreciação da peça, penso que o grupo consegue até extrapolar um pouco a caricatura nordestina. 
A trilha sonora executada ao vivo pela bandinha dá um colorido todo especial a cena, pontuando determinadas ações e em alguns momentos são cantadas algumas canções que fazem parte do cancioneiro popular e penso que conseguem alcançar bons resultados com isso. 
Preciso destacar primeiramente a direção de Sabrina Schwan, pela criatividade e coragem em construir um espetáculo belo e poético, repleto de soluções bacanas e inteligentes, concebendo uma montagem que dá valor a visualidade, com uma boa maquiagem, uma paleta interessante de cores dos figurinos e iluminação. Destaco também todo o elenco, alertando apenas para cuidar a respiração em determinados momentos da execução das ações e canções, e deste elenco destaco a atriz Barbara Marmor, que possui um olho que brilha e tem um bom trabalho de interpretação e  também a Bruna Descovi que consegue segurar muito bem a sua personagem. 
O grande barato da montagem é que este tipo de peça poderia cair num pieguismo didático facilmente, mas conseguem ir muito além disso, construindo um espetáculo divertido, correto e repleto de acertos. 

Diretor: Sabrina Schwan
Autor: José Mapurunga
Contra-regra: X
Sonoplasta: O grupo
Criador da trilha sonora: O grupo
Iluminador: Sabrina Schwan e Iago Muller
Criador da iluminação: Sabrina Schwan
Maquiador: Sabrina Schwan
Criador da maquiagem: Sabrina Schwan
Figurinista: Sabrina Schwan
Cenógrafo: O grupo
Elenco: Bárbara Marmor
Andrei Krummenauer
Bruna Descovi
Bruna Sampaio
Sandro Lima Schwan
Pâmela Fogaça

 Diego Ferreira - Comentador Crítico do Montenegro em Cena

AS RECEITAS DA TIA HERTA (RS)




"As receitas da Tia Herta" da Curto Arte começa e vemos um grande cenário realista, que prima pelo detalhe. O fogão, as paredes, os vidros de chá, a janela, a caneca, a água, tudo é real, até mesmo os efeitos de luz que representam os trovões. O espetáculo é uma comédia, que eu poderia chamar de "comédia de costumes", mas estaria me contradizendo, pois a comédia de costumes é um gênero que caracteriza-se pela criação de tipos e situações de época, com uma sutil sátira social, onde Martins Pena é mestre. E "As receitas de Tia Herta" não nos trás nem tão pouco um conflito ou sátira social, apenas motes e histórias cômicas que caracterizam a peça. É uma comédia que tem uma boa dramaturgia, onde Carlos A. Klein consegue captar muito bem as situações que caracterizam o povoado alemão no estado. A platéia adere muito bem a proposta de um teatro popular, que é muito bem feito em todos os sentidos. A direção é pontual, os atores são ótimos na construção dos tipos em cena, mas destaco o trabalho de  Odair Weisheit  como Valdir, pois além de ser muito boa a sua construção, vejo o ator em trabalho, com todo o corpo, transpirando e suando em cena e isto é bom de ver. A trilha sonora é pontual e auxilia no andamento do trabalho. 
O espetáculo tem um ótimo resultado em todos os sentidos: atores bons, direção criativa e pontual, trilha funcional, texto que consegue concentrar a ação e exercer o básico de uma dramaturgia que é ter um inicio, um meio - conflito, e um fim- desenlace, que aliás é muito bem resolvido. Mas tem o essencial que é conseguir ter o espectador ao seu lado. 

Elenco:
Carlos Alberto Klein  – Tia Herta
Cristiano Schenkel – Sérgio
Odair Weisheit  – Valdir
De: Carlos Alberto Klein
Direção: Carlos Alberto Klein


Diego Ferreira - Comentador Crítico do Montenegro em Cena 

FLORES NO ABISMO (RS)



Para começar a análise de "Flores no abismo - Experimento Strindberg" divido abaixo o material enviado pelo grupo a produção do festival: 
Flores no abismo-Experimnto Strindberg, é uma investigação teatral com base no Teatro-Performance apropriando-se do texto”A mais forte”.Conta a história de duas mulheres que ao descobrir estarem casadas com o mesmo homem planejam vingança,o que elas não imaginavam é queo destino lhes reservaria algo inesperado.Angustias,medos,perdas e amor,uma investigação sobre o comportamento humano.
A sinopse do espetáculo já detona que o que podemos esperar da montagem é: 
1º - Um experimento calcado na obra de Strindberg,
2º - Uma investigação teatral
3º - Bases calcadas no Teatro-Performance
O espetáculo decepciona justamente por prometer demais e não cumprir, cria um ambiente inicial propicio para que a narrativa se instalasse no palco e iniciasse a sua comunhão com o público. Mas já na abertura, a cena com as lanternas é rompida rapidamente, já passando para o próximo momento. O cenário é bonito e equilibrado, é bastante funcional e auxilia no desenrolar da peça. 
Surgem algumas imagens interessantes, mas nem o texto que é dito de forma ritualizada nem tão pouco a trilha que é exagerada, pontuando toda a ação auxiliam para que essas imagens fossem potencializadas e convergidas para melhor contar essa história baseada em Strinberg. 
As marcas da cena não permitem que os atores evoluem na composição dos personagens, que utilizam uma métrica no dizer o texto, tornando-o totalmente rebuscado. Mas há uma exceção, no caso dos diálogos de Bruna Stefany e Joana Guerreiro que em alguns momentos conseguem vencer essa rigidez do texto e fugir um pouco desta métrica, mas podem evoluir muito ainda. 
A movimentação é suja, desnecessária e me faz pensar que o que estou assistindo trata-se de uma miscelânea de linguagens, dentro de uma proposta boa, mas mal executada. O espetáculo com tudo isso acaba ficando chato e sem sentido, e isso que eu adoro propostas que a primeira vista não tenham sentido, mas que no decorrer vão desvelando informações e significados. 
Me dei o trabalho de contar o intervalo que a peça ficou sem a presença da trilha sonora, exatos 6 segundos, e um trabalho como este que precisa de momentos de tensão, de pausas e principalmente precisa de SILÊNCIOS. 
A dicção dos atores não é boa, mas isso se acentua principalmente nos meninos. 
O grande mérito é o de ousar na escolha deste texto e deste autor, demonstrando a coragem de experimentar, e minha dica é esta, não desistam desse caráter experimental, mas experimentem conscientes do tipo de proposta que estão querendo trabalhar. 

Diretor: Douglas Castro
Autor: Estudo feito a partir da Obra “A mais forte” de August Strindberg
Contra-regra: Roger Szortyka e Eduardo Michelsen
Sonoplasta: Karol Santos
Criador da trilha sonora: Douglas Castro e Luis Botelho
Iluminador: Douglas Castro
Criador da iluminação: Douglas Castro
Maquiador: Gilson Leonardo
Criador da maquiagem: Gilson Leonardo e Douglas Castro
Figurinista: Gilson Leonardo e Karol Santos
Cenógrafo: Priscila Pinzon,Franciny Almeida e Roger Szortyka
Elenco: 

Bruna Stefany
Joana Guerreiro
Lia Santos
Juliane Cardozo
Filipe Maciel
Johnny Cairuga

Diego Ferreira - Comentador Crítico do Montenegro em Cena

QUASE AMORES (RS)



"Quase amores" é uma adaptação do livro "Dez (quase) amores" de Cláudia Tajes realizada por Ana Makki para o Grupo OTC. O livro retrata a vida de Maria Ana e seus encontros e desencontros amorosos. A adaptação para o palco é correta, mas não adequada para este grupo de jovens atores. Penso que este tipo de texto não é o mais adequado para ser trabalhado com jovens. Primeiro por se tratar de um texto que não é dramaturgia, e penso que ao se trabalhar com jovens o bacana seria selecionar um texto, que a priori, pudesse auxiliar na construção do espetáculo favorecendo a construção de personagens que fossem mais palpáveis aquele grupo, pois aí poderia ocorrer uma  internalização dos personagens, e os atores poderiam se ajustar melhor dentro do contexto. E isto é uma função do diretor, ter essa visão exterior, uma visão sistêmica de enxergar o que o seu elenco pode render em determinado contexto. Existe uma infinidade de textos que vão ao encontro da proposta de teatro jovem que pudesse melhor aproveitar o elenco, proporcionando a este elenco uma maior diversão em cena,  que não ocorre aqui. 
Para mim este é o problema chave, como o elenco é demasiado jovem não consegue se apropriar das questões abordadas pela narrativa da peça, e acabam apenas seguindo as marcas, pois é lógico, estes pequenos não tem estofo para contar a história de relações amorosas que ainda não vivenciaram. Daí as ações e interpretações são construídas em cima de esteriótipos, sem ritmo deixando uma infinidade de vácuos na ação, cada vez que um personagem se deslocava em direção a arara de roupas e adereços localizada no centro do palco,  este tempo não era utilizado para nada. Outra questão é a presença desta arara em cena, na minha opinião, ela não precisava nem existir, nem tão pouco as roupas e acessórios, pois não acrescentam em nada na ação, pelo contrário, atrapalham e deixam a cena bastante literal. Como sugestão eu aboliria todos os elementos, deixaria apenas os pufes, e investiria na construção de cada personagem, de cada tipo ou de cada esteriótipo, mas sem a utilização e troca-troca de roupas, o que acaba sendo apenas uma bengala para o ator, pois não altera em nada nos personagens. O figurino preto básico funciona muito bem e poderia ser assumido enquanto teatralidade, e ao invés de a cada troca de personagem eu trocar de roupa, experimentar trocar o corpo do ator, a voz, o deslocamento, sem acessórios, apenas no trabalho do ator, creio que otimizaria a questão do tempo, equalizaria a questão espacial e ainda por cima poderia auxiliar na construção de um outro ritmo, necessário em montagens como esta, que trabalha através da composição e desconstrução de tipos. 
Os atores agem como atores-narradores, outro aspecto que não funciona porque o narrador tem o mesmo tônus do personagem, (ou melhor não tem tônus, nem físico nem vocal, não acontece uma diferenciação). 
Ao elenco sugiro que esqueçam as marcas da direção e que procurem se divertir em cena, as situação apresentadas podem ser engraçadas, não pela piadinha gratuita, mas pelo modo como cada ator abordar seu trabalho. 
A montagem apresenta uma sucessão de equívocos em sua execução, como por exemplo: Matheus Kleinubing com seu personagem Reginaldo consegue construir um tipo engraçado, porém enquanto conversa com sua colega de cena, não olha para ela, mas sim para a platéia, uma especie de triangulação, outra cena é a da churrascaria, onde os elementos são objetos invisíveis  mas então porque colocar as roupas dos personagens? É isso que eu sugiro, de decidir qual linguagem vai utilizar e investigar a fundo, trabalhar a força do elenco, brincar mais com as nuances da iluminação, pois ela pode ser o delimitador do espaço e dar esta diferença que não é alcançada com a simples troca do figurino. 
Cássio poderia amarrar melhor todos os elementos e seguir adiante com a peça, mas tentando provocar neste elenco uma tensão, e esta tensão transformada em ação e energia. 

Ficha Técnica: 
Diretor: Cássio Schonarth
Assistente de Direção: Laura Trein
Autor: Adaptação de Ana Makki para o texto “Dez (quase) Amores” de Cláudia Tajes
Contra-regra: Matheus Chisté
Sonoplasta: Cássio Schonarth
Criador da trilha sonora: Cássio Schonarth
Iluminador: Ana Makki
Criador da iluminação: Ana Makki
Maquiador: Ana Makki e OTC
Criador da maquiagem: Ana Makki
Figurinista: Leopoldo Schneider
Cenógrafo: OTC – Oficina de Teatro do Clak
Elenco: 
Amanda Pietra Varela
Carolina Conte Simon
Felipe Chisté
Gabriela Waszlavick Silva
João Pedro Caron
Matheus Kleinubing
Matheus Wollmann da Costa
Natalia de Oliveira Martins
Nathália Steffen

Diego Ferreira - Comentador Crítico do I Montenegro em Cena