quarta-feira, 7 de março de 2012

I - MUNDO (RS)

Foto: Daiane Goessling Ferreira. 

"É difícil perceber de que maneira o teatro pode se reinventar hoje. Ao mesmo tempo que é difícil, é fundamental perceber isso. Nenhuma arte sobrevive sem se reinventar permanentemente." 
(Roberto Alvim)

"I-Mundo" é a nova produção do Grupo Mototóti e esta me faz pensar que o grupo traz uma nova possibilidade para o teatro feito na rua. O espetáculo vem pela contramão do que geralmente assistimos no âmbito das produções pensadas para a rua, onde são empregados o exagero, o grandiloquente, o colorido, muitos objetos e figurinos, lógico e necessário para alcançar e atrair a atenção dos transeuntes. Mas aqui temos a síntese, ou seja, os atores utilizam o mínimo necessário para se criar e recriar possibilidades, outras realidades pertencentes a manifestação teatral. Com o mínimo se consegue construir um espetáculo potente e rico em significados, e assim como já acontecia com "O Vendedor de Palavras", que levantava temas que estão sempre em voga como o incentivo a leitura, aqui temos como eixo a preservação da natureza e a relação dos humanos com o mundo e demais seres, mas sem ser demagógicos ou panfletários, e sim teatrais, mérito do texto de Carlos Alexandre  e direção de Juliana Kersting que consegue amarrar muito bem todos os elementos do espetáculo. Fernanda Beppler também tem grande mérito pela criação da trilha sonora genial que se utiliza de instrumentos que provocam ruídos e interferências sonoras, além de idealizar os figurinos, todos pretos, soturnos e funcionais, repleto de detalhes, enriquecendo muito a montagem. 
Outra novidade é a utilização de Kangoo Jumps, substituindo as pernas de pau (que geralmente são utilizadas neste tipo de manifestação), que além de ser um diferencial, exige dos atores um maior disponibilidade corporal. Esta disponibilidade é potencializada através do jogo entre atores e platéia, o que resulta num espetáculo de grande capacidade de diálogo com plateias de todas as idades pelos aspectos visuais, espacial, sonoro e narrativo. 
Os atores são ótimos, e fazem a engrenagem funcionar muito bem, desde a chegada dos seres alienígenas "Obs" e "Abs" no nosso Imundo planeta com um dialeto, até mesmo em cenas onde envolvem o público, chamando um espectador para dentro da roda, e nesta apresentação o espectador jogou junto não apenas respondendo aos estímulos dos atores, o que necessita de grande concentração e improvisação por parte do elenco. 
No seu segundo trabalho do Grupo, fica a certeza de que estão realizando um trabalho muito competente e  com seriedade e que podemos aguardar os próximos passos para podermos nos divertir e emocionar. 



Ficha Técnica
Concepção e atuação: Carlos Alexandre e Fernanda Beppler
Dramaturgia: Carlos Alexandre
Direção: Juliana Kersting
Trilha Sonora e Criação de Figurinos: Fernanda Beppler
Execução: Carol Puccini, Geluza Tagliaro e Sônia Krug.
Fotorafias: Tiemy Saito
Identidade Visual, Produção e Realização: Grupo Mototóti


Você poderá ler este texto também no blog Válvula de Escape.


*este espetáculo integra o Prêmio FUNARTE Artes Cênicas na Rua 2010


Maiores informações no SITE e no BLOG do Grupo Mototóti.