segunda-feira, 25 de novembro de 2013

PRINCIPES E PRINCESAS, SAPOS E LAGARTOS (RS)


Ao comemorar seus 25 anos de Invenção Teatral a Cia. Stravaganza estreou neste ano mais um trabalho dirigido as crianças. Trata-se de "Príncipes e princesas, sapos e lagartos" baseado no livro homônimo  de Flávio de Souza. Ao sair do teatro fiquei pensando o quão importante é a produção deste coletivo no âmbito teatral gaúcho e em nível nacional. Pude acompanhar diversas montagens como esta, "Ópera Mostra", "A comédia dos erros", "Encontros depois da chuva", "Bebê bum" e "Sacra folia". E o que percebo é que a cada novo espetáculo o grupo não se deixa acomodar-se, pelo contrário, busca sempre novidades e novas linguagens, o que possibilita esta longevidade e inovação que é marca registrada do grupo. 
Em "Príncipes e princesas" não é diferente, trata-se de um espetáculo que tem uma concepção bastante simples e despojada, porém ao tratar de fábulas de um modo contemporâneo acerta em cheio, ao trazer uma linguagem direta que consegue dialogar com a realidade dos pequenos de hoje. 
A trama do espetáculo apresenta uma série de histórias curtas que são independentes, mas dialogam com o todo, trazendo personagens cômicos e engraçados que são interpretados pelo trio de atores, Duda Cardoso, Fernanda Petit e Áquila Mattos, que usam e abusam de diversos figurinos e adereços de cena. Os três atores são ótimos e conseguem materializar em cena os diversos tipos que fazem parte das histórias.  
Com um resultado simples o espetáculo encanta justamente por atualizar as histórias clássicas trazendo a tona uma linguagem ágil e que dialoga diretamente com as crianças de hoje. 


Elenco: Duda Cardoso, Fernanda Petit e Áquila Mattos 
Trilha sonora original: Ricardo Severo 
Cenografia: Adriane Mottola e Duda Cardoso (que também assina o figurino) e Fernanda Petit 
Iluminação e operação de luz: Ricardo Vivian 
Programação visual: Rodrigo Mello 
Texto de Flávio de Souza
Direção de Adriane Mottola.  

domingo, 24 de novembro de 2013

EU, ÁLVARO DE CAMPOS (RS)


O espetáculo “Eu, Álvaro de Campos” foi o primeiro trabalho a participar do novo projeto da Coordenação de Artes Cênicas da Prefeitura de Porto Alegre. O projeto em questão é o “Teatro na Cia” realizado sempre as quintas feiras na Cia. de Arte.
Trata-se de um monólogo interpretado pelo ator Júlio Lhenardi do Grupo Artes e Letras dirigido por Gabriel Motta. Já tinha falado por aqui da importância deste grupo no cenário gaúcho em que se propõem a encenar textos de autores clássicos da literatura, neste caso um heterônimo de Fernando Pessoa.
Trata-se de um solo onde temos um ator empenhado que domina a cena, porém penso que há um problema na questão da transposição do literário para o teatral, pois vemos um homem atormentado com questões existenciais, porém na maior parte do tempo assistimos ao ator declamar um texto/poema entrecortado de algumas canções interpretadas pelo próprio ator e nada mais que isso. Penso que a concepção do espetáculo peca justamente em tentar traduzir um poema para o teatro, porém não consegue ultrapassar esta barreira, pois o trabalho é quase uma declamação de poemas, sendo que isso não é demérito, pelo contrário, pois Júlio tem um domínio vocal interessante, porém não alcança uma qualidade teatral justamente por não existir uma linha dramática, uma ação que justifique a presença daquele homem no espaço.
Júlio Lhenhart tem boa presença cênica e uma voz potente, porém sua interpretação se desenvolve através de uma linearidade que faz com que o espectador não adentre no universo da narrativa. Falta colorir mais o texto, recheá-lo de intensões, abusar mais de pausas e silêncios para que isso gere ações no ator e uma suspensão no espectador. Lhenhart se utiliza muito de gestos periféricos e movimenta-se de um lado para o outro enquanto experimenta gravatas e ternos, mas isso não chega a configurar uma ação teatral condizente com seu personagem. Não fica muito claro quem é este homem, onde ele está e porque tem a necessidade de dizer aquelas coisas.
Os elementos cênicos, assim como a iluminação e trilha sonora são limpos e pontuais, apenas uma ressalva a trilha sonora que poderia ser um pouco mais econômica em suas inserções, pois às vezes sua utilização serve apenas para preencher a cena e não auxilia na criação de climas para a peça. Uma sugestão seria a utilização de silêncios e barulhos do mar.
Apesar de tudo o espetáculo deve sim ser assistido e recomendado justamente aquelas pessoas que gostem de poesias, gostem de Fernando Pessoa ou que desconhecem a obra de Pessoa e que gostaria de conhecê-la, pois o trabalho reafirma o poder didático que o grupo Artes e Letras tem se proposto, a trazer para o palco grande autores da literatura.
FICHA TÉCNICA
Dramaturgia: Júlio Lenhardi
Colaboração: Altair Martins
Concepção Cênica e Atuação: Júlio Lenhardi
Direção Musical e Trilha Sonora: Marcelo Schultes
Sonoplastia e Iluminação: Kariny Schoenfeldt e Gabriel Motta
Figurinos e Cenografia: J. Alceu e Allex Manzônia
Direção: Gabriel Motta
Fotos: André Pares
Arte Gráfica: Uecla Oiluj